11/10/2009

Libertação

Menino doido, olhei em roda, e vi-me

Fechado e só na grande sala escura.

(Abrir a porta, além de ser um crime,

Era impossível para a minha altura...)



Como passar o tempo?...E diverti-me

Desta maneira trágica e segura:

Pegando em mim, rasguei-me, abri, parti-me,

Desfiz trapos, arames, serradura...



Ah, meu menino histérico e precoce!

Tu, sim! Que tens mãos trágicas de posse,

E tens a inquietação da Descoberta!



O menino, por fim, tombou cansado;

O seu boneco aí jaz esfarelado...

E eu acho, nem sei como, a porta aberta!



José Régio
De Poemas de Deus e do Diabo, 1925.

1 comentário:

mfc disse...

Sabes que conheci pessoalmente o Régio?
Ele frequentava o mesmo café que eu...