Dias de lentidão, dias de chuva,
Dias de espelhos quebrados e de agulhas perdidas,
Dias de pálpebras cerradas ao horizonte dos mares
De horas sempre iguais, dias de cativeiro.
Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas
E as flores, meu espírito está nu como o amor,
A aurora que ele esquece fá-lo baixar a cabeça
E contemplar seu corpo obediente e vão.
No entanto, eu vi os mais belos olhos do mundo,
Deuses de prata que traziam em suas mãos safiras,
Deuses verdadeiros, pássaros na terra
E na água, eu os vi.
Suas asas são as minhas, nada existe
Salvo o seu voo que sacode a minha miséria,
O seu voo de estrelas e de luz,
Rio, planície, rocha, o seu voo,
As ondas claras das suas asas,
O meu pensamento sustentado pela vida e pela morte.
Paul Éluard
Algumas Palavras (Antologia)
tradução de António Ramos Rosa e Luiza Neto Jorge
Dom Quixote
1977
(Ave Mundi de Rodrigo Leão cantada por Ângela Silva)
1 comentário:
Do "Poeta da liberdade" a gente só espera o melhor...
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