16/01/2010

Teus olhos sempre puros

Dias de lentidão, dias de chuva,


Dias de espelhos quebrados e de agulhas perdidas,

Dias de pálpebras cerradas ao horizonte dos mares

De horas sempre iguais, dias de cativeiro.



Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas

E as flores, meu espírito está nu como o amor,

A aurora que ele esquece fá-lo baixar a cabeça

E contemplar seu corpo obediente e vão.



No entanto, eu vi os mais belos olhos do mundo,

Deuses de prata que traziam em suas mãos safiras,

Deuses verdadeiros, pássaros na terra

E na água, eu os vi.



Suas asas são as minhas, nada existe

Salvo o seu voo que sacode a minha miséria,

O seu voo de estrelas e de luz,

Rio, planície, rocha, o seu voo,

As ondas claras das suas asas,



O meu pensamento sustentado pela vida e pela morte.




Paul Éluard

Algumas Palavras (Antologia)

tradução  de António Ramos Rosa e Luiza Neto Jorge

Dom Quixote

1977



(Ave Mundi de Rodrigo Leão cantada por Ângela Silva)

1 comentário:

mfc disse...

Do "Poeta da liberdade" a gente só espera o melhor...