17/02/2010

os olhos

se um gesto me definisse seria o de te afastar o cabelo para te ver melhor o rosto que me enche de bravura
e só te vejo pelos meus olhos por serem os que te vêem mais bela
por isso os escolho sempre
tenho os olhos feitos à medida da tua cara
e só tenho olhos para ti
quando não estás sou invisível e quase invisual
a visão não me serve de nada
vejo mas sem cor e é pior que a preto e branco
é desfocado
é esbatido
e sem chama
e sem cheiro
contigo cheira bem
sabe bem
ouve bem o que digo porque é sincero     porque se não fosse todo eu
 era falso
cada falso que há aí merecia cadeia ou morte
mas com os teus braços finos a fazer as vezes da corda que me serpenteia o pescoço para me matar de felicidade

e só te quero a ti
e só te vejo a ti como a última noite do Verão mais quente
com o céu mais estrelado
com a lua mais cúmplice
com os gestos mais carinhosos
e tiro-te o cabelo da frente com a ajuda da minha mão direita que só existe para isso
e vou para te beijar mas não o faço
hesito porque os meus olhos pediram-me que os deixasse olhar para ti mais uma vez
e eu deixo para eles não chorarem muito

in a verdade dói e pode estar errada, de João Negreiros
(retirado do blog do autor)

Poema galardoado, em São Paulo, com o Prémio Professora Therezinha Dutra Megale (2009). O poema premiado é o único poema de um poeta português presente numa Antologia de Poesia editada pela ASES, no Brasil, em 2009. Segundo, Norberto de Moraes Alves (Presidente da ASES), esta antologia lançada pela ASES tem por norma homenagear pessoas ilustres ligadas à literatura.

4 comentários:

Gerana Damulakis disse...

De uma beleza ímpar. Vou procurar o blog do autor.

cduxa disse...

Gerana, o blog do João Negreiros está nos meus preferidos (limão Tahiti).
Inté.

Gerana Damulakis disse...

ok, irei lá.

cduxa disse...

Já mudei o nome , mas está aqui ao lado, na lista dos blogues.