(...)
O meu pai, como disse, era advogado e conhecia - embora não houvesse nenhuma relação de intimidade - uma figura legendária da advocacia portuguesa: o Dr. Bustorff Silva, o brilhante jurista que vencia tudo na barra do tribunal, graças à sua notável e fascinante eloquência, se bem que perdesse com frequência na secretaria com o seu arqui-rival Azeredo Perdigão, tal a eficácia deste último a trabalhar com os papéis, claramente demonstrada na gestão de uma estrutura poderosíssima que ainda hoje, depois do seu desaparecimento, não será libertado de certos estigmas da orfandade - e que é a famosa Fundação Gulbenkian.
Conservador ou mesmo, em vários aspectos, reaccionário, Bustorff Silva possuía, todavia, um carácter solidamente vertebrado, o que lhe dava imediatamente vantagem sobre os seus adversários, mesmo aqueles que, em meu entender, defendessem, em termos ideológicos, posições mais correctas do que as suas.
Bustorff Silva era, na mais completa acepção da palavra, um Senhor.
Como tal, a drástica oposição que se prevê existir nas respectivas ideias políticas não impedia que ele fosse amigo pessoal, por exemplo, de figuras como Picasso.
Já não sei por que razão - decerto não tão inexplicáveis como aquelas que levaram o tenor Tito Schippa a adormecer no sofá da sala dos meus pais...- o Dr. Bustorff Silva foi jantar à casa da Parede, tornando-se nas circunstâncias natural que eu tocasse alguma coisa ele, muito em especial Albéniz...
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a continuar
António Vitorino D'Almeida Ao Princípio Era Eu Autobiografia. Clube do Autor, S.A.
Jorge Federico Osorio: Albéniz Asturias (Leyenda)
2 comentários:
O AVA até a escrever é um comunicador nato!
É a qualidade mais conhecida e apreciada dele pela maioria.
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