30/04/2011

Deserto

"Os dias são sempre os mesmos, aqui na Cidade, e às vezes não há certeza do dia que se está a viver. É um tempo já antigo, e é como se nada houvesse escrito, como se nada fosse certo. Aliás, ninguém pensa realmente nisso, aqui ninguém se pergunta quem é. Mas Lalla pensa muitas vezes nisso, quando vai até ao planalto de pedras onde vive o homem azul a quem ela chama Es Ser.
Talvez seja por causa das vespas. Há tantas vespas na Cidade, muito mais que homens e mulheres. Entre a aurora e o crepúsculo, as vespas zumbem no ar, à procura de alimento, revoluteando na luz do Sol.
Contudo, num certo sentido, as horas nunca são iguais como as palavras que diz Aamma, como as caras das raparigas que se encontram à volta da fonte."

P,81 Deserto de J.M.G. Le Clézio
Prémio Nobel de Literatura 2008

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