21/12/2011

HISTÓRIA ANTIGA

Feliz Natal,  a todos os que por aqui passam.


Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

Miguel Torga
Antologia Poética
Coimbra, Ed. do Autor, 1981

4 comentários:

mfc disse...

A história é bonita... mas não acredito de todo nela!

AC disse...

Minha amiga,
Que a verdadeira essência de Natal se consiga insinuar para lá deste gigantesco cenário comercial.

Feliz Natal!

limalimão disse...

Grata mfc pela presença assídua neste meu espaço. O ser humano tem muitas coisas preciosas, uma delas é a liberdade de escolha: o livre arbítrio. Um grande abraço amigo.

limalimão disse...

Caro AC,«“Mal nos conhecemos inaugurámos a palavra amigo.”
Alexandre O’Neill, in “No Reino da Dinamarca» e ela é feita de escolhas e cumplicidades neste mundo das palavras e das emoções.
Que a verdadeira essência de Ser Humano seja o nosso projecto de vida.
Um grande abraço e feliz Natal.