Por vezes a alma é como um seixo, outras vezes como
um charco, exibindo as diferenças entre a imobilidade
e o alvoroço. Nada parece agora infinito, nem o infinito.
Com a mesma alegria com que ostentamos os anéis,
usamos a melancolia para seduzir, e juramos fidelidade
aos que exigem de nós que registemos as feridas e as
raízes de uma vida demasiado frágil.
O que empalidece não tem de morrer, a vida tem outros
caminhos. Mais livre que a luz é o próprio dia, essa pe-
quena colina do tempo que levanta a poeira da nossa re-
beldia. Só há viagem se houver viajante, e esta é a hora
de saber o que se agita para lá do horizonte.
Mas escuta: é cada vez mais tarde para pensar que ain-
da é cedo.
(excerto)
in ANO COMUM, Litexa, 2011 (Introd. de Robert Simon;
Posfácio de Teresa Sá Couto)
1 comentário:
Só há viagem se houver viajante... pois comecemos já a viagem!
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