Nação Crioula A Correspondondência Secreta de Fradique Mendes

«(...)
Nesta cidade assim anoitecida é a memória da tua luz que me guia e conforta. Vejo-te, constantemente te vejo, como pela primeira vez te vi, rodando belíssima nas voltas da rebita ou meditando gravemente na Muxima, sozinha na capela, enquanto lá fora o rio imóvel sob o largo sol, a paisagem solene, o céu sem mácula, pareciam em silêncio meditar contigo.Vejo-te depois atravessando a galope a Praia dos Veados. Vejo-te a rir ao longe e o teu riso chega até mim trazido pela brisa, salgado e fresco, húmido e forte, e eu volto a sentir, como então senti, a viva presença da Vida.
Quando me perguntaste, respirando exausta o mesmo ar que eu - e agora? - não soube o que responder. Três meses mais tarde ainda não conheço a resposta. Fui nómada a vida inteira. Atravessei metade do mundo, desde Chicago até à Palestina, desde a Islândia até ao Sahara e nunca soube que nome dar a essa errância aflita. Hoje sei que estava à tua procura. Sei que és o meu destino, a minha pátria, a minha igreja. Sei que ao deixar Luanda fez-se Dezembro e que desde então o Inverno ronda como um lobo esfomeado à minha volta. (...)»


José Eduardo Agualusa  Nação Crioula  A Correspondondência Secreta de Fradique Mendes. Publicações Dom Quixote

(...) José Eduardo Agualusa, um jovem e

bem sucedido escritor angolano. tomou

emprestado o personagem do

Eça e o meteu em mil e uma peripécias

por terras africanas e brasileira

e a obra se constrói através das supostas

cartas escritas por Fradique

narrando suas aventuras e desventuras

pessoais, políticos e amorosas. (...)

(Continuar a ler)

Enxerto do trabalho de Nilrlenlir Zknzparoni Professor-Visitante
Mestrado em História IUFBA sobre Agualusa. José Eduardo. Nação crioula. A correspondência secreta de
Fradique Mendes. Rio de Janeiro, Gryphus, 1998, I59 p.